Você já parou para pensar sobre o tempo? Já percebeu que no meio religioso termos como: eterno, perpetuo, onipresente, são tão comuns e ao mesmo tempo, incompreendidos. Vejamos. É pelo fato de uma relação existente entre dois tipos de tempo que nos intrigam e que talvez as nossas limitações não nos permitam entende-los.
Poderíamos caracterizar assim esses dois tempos diferentes:
- Primeiramente percebemos a existência do tempo chamado :cronológico ou “Kronos”. Nele raciocinamos de maneira lógica, com princípio, meio e fim. Este tempo é medido por anos, horas, minutos, estações (primavera, verão...) e por duas coisas básicas que todo ser humano nesse mundo, até a vinda do Senhor, tem que passar, ou seja: nascimento e morte. Filosoficamente, é um tempo aprisionador, pois o ser sofre com o que passou, e com o porvir.
- O outro tipo de tempo, um pouco menos perceptível, e por muitos desconhecido é o chamado: “Kairós”. Esse tempo não é medido por anos, meses, dias, horas, minutos e segundos. É atemporal. Um dia em Kairós pode ser como mil anos e mil anos como um dia. Não é um tempo sem fim, mas seria justamente o fim do tempo. Onde não se sente o tic-tac, menos ainda os seus efeitos.
Uma das principais condições que temos para sermos felizes é uma boa relação entre esses dois modos de tempo. Devemos tomar o cuidado de que a matéria prima da nossa vida não seja aquilo que nos marcou temporariamente de maneira negativa. E como conseguir isto? Esse é o grande desafio e mistério da vida. Temos que nos permitir visualizar, que num dado momento da vida, algo veio de kairós, e entrou no tempo cronos de forma discreta, exata e concreta, com o objetivo de tirar o homem do tempo cronos e no findar, levá-lo a kairós.
Kairós é o tempo de Deus, é a possibilidade que temos de fazer com que determinados momentos na presença do Todo Poderoso permaneçam em nós. É o tempo que nos desliga deste mundo e nos lembra uma realidade superior, não mais efêmera, não mais passageira, mas eterna.
Portanto, devemos fazer este “acordo” com o tempo, reciclando e reestruturando diante de Deus aquilo que nos marca, pois “para cada dia, sua dor e sua alegria”
O poeta Carlos Drumonnd de Andrade, em um de seus poemas descreve de maneira bonita:
“Vamos de mãos dadas,
A vida é este tempo presente,
Não nos afastemos muito,
Vamos, vamos juntos,
Juntos nesta experiência
De fazer a descoberta,
Da beleza de cada instante.”
Isso é um mistério. Não é insondável, mas é um mistério.
Prossigamos...
Israel Boniek Gonçalves
boniekmg@yahoo.com.br
Graduado em Filosofia-UFSC
Mestre em Teologia-EST
Professor da FAEST