FÉ e RAZÃO

Um conflito estabelecido!


A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio (cf. Ex 33, 18; Sal 2726, 8-9; 6362, 2-3; Jo 14, 8; 1 Jo 3, 2).

No dintel do templo de Delfos está escrita a frase “conhece-te a ti mesmo”, que por mais que pareça se referir a obrigação humana de possuir seu significado, se refere ao fato do homem saber que é homem e não Deus, ou seja reconhece que és homem e tem as fragilidades de homem e também natureza e estado do mesmo, diferente dos deuses.

O que queremos salientar é que primeiramente temos a necessidade de nos colocar como conhecedores da nossa verdadeira condição, seja como criaturas, servos e filhos de Deus, e isto é nobre. É importante também, termos convicção desta condição, ou seja: “não somos deuses”, mas somos seres capazes de se relacionar com Ele, e, além disso, estabelecermos amorosamente relações de paternidade e comunhão, afinal somos dentre as criaturas terrestres a única que “é e que sabem que é”.

“Como pode o Homem saber de seus limites, se não discerne algo para além de si mesmo?”

Quanto mais o homem conhece a realidade e o mundo, tanto mais conhece a si mesmo na sua unicidade. O que chega a ser objeto do nosso conhecimento, torna-se por isso mesmo parte da nossa vida, o homem que deseje distinguir-se, no meio da criação inteira, pela sua qualificação, deverá atentar-se no reconhecimento da sua real condição.

Quanto as questões fundamentais que caracterizam o percurso da existência humana: Quem sou eu? Donde venho e para onde vou? Porque existe o mal? O que é que existirá depois desta vida? Elas têm a sua fonte comum naquela exigência de sentido que, desde sempre, urge no coração do homem, e Igreja não é alheia, nem pode sê-lo, a este caminho, que busca resposta a estas questões, ela fez-se peregrina pelas estradas do mundo, para anunciar que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14, 6). Dentre os vários serviços que ela deve oferecer à humanidade, há um cuja responsabilidade lhe cabe de modo absolutamente peculiar: é a diaconia da verdade, ciente, todavia de que cada verdade alcançada é apenas mais uma etapa rumo àquela verdade plena que se há de manifestar na última revelação de Deus: Hoje vemos como por um espelho, de maneira confusa, mas então veremos face a face. Hoje conheço de maneira imperfeita, então conhecerei exatamente (1 Cor 13, 12).

Não podemos deixar de apreciar o esforço da razão na proposição de objetivos que tornem cada vez mais digna a existência pessoal, mas movidos pela constatação, sobretudo em nossos dias, de que a busca da verdade última aparece muitas vezes ofuscada e com falsa modéstia, contenta-se em verdades parciais e provisórias, deixando de tentar pôr fim as perguntas radicais sobre o sentido e o fundamento último da vida humana, pessoal e social.

Portanto, reafirmando a verdade da fé, podemos restituir ao homem de hoje, uma genuína confiança nas suas capacidades cognoscitivas e oferecer a compreensão humana, um estímulo para poder recuperar e promover a sua plena dignidade que se encontra em Jesus Cristo. “Nós marchamos é pela fé e não pela visão” (II Cor 5, 7).



Israel Boniek Gonçalves

boniekmg@yahoo.com.br

Graduado em Filosofia-UFSC

Mestre em Teologia-EST

Professor da FAEST